Deixo aqui um pouco de mim. Deixe-me um pouco de você!






Ela era a menina das palavras
Escritas e faladas
Ela tecia como ninguém as interpretações
De tão minuciosa que era

As palavras faziam-lhe cocegas
Tiravam seus risos
As palavras lhes eram como punhais
Atravessavam o coração

As palavras não se perdiam
Tudo o que era dito era guardado
Seu pensamento remoía
E mergulhava nos sentidos

As palavras nem sempre era o que eram
Ela sabia que o tempo fez perder seu valor
Por isso nunca falava sem sentir
E nunca sentia sem falar ou escrever.


(J.L.)





Era apenas um pássaro
Nunca foi um rouxinol ou sabiá
Só sabia cantarolar
Gostava do que cantava

Vivia a vida em tons legais
Nem sempre seu som agradava
Mas seu peito era leve
Seu coração se ofertava em cada canto

Em dias ensolarados cantava
Em dias de chuva cantava
Em todas as estações cantava
Ou ao menos tentava

Um dia feriu a garganta
Travou seus sons
E não mais sendo o que era
Tinha apenas a liberdade de voar...


(J.L.)



As pessoas não veem
Mas elas te roubam sonhos
Te roubam esperanças
Te roubam coisas boas que gostava de fazer

As pessoas não veem
Mas se fazem de bom
Fingem uma saudade
Fingem uma conversa

As pessoas não veem
Mas vivem em seus egoísmos
Nas suas verdades
Cada um no seu mundo

As pessoas não veem
Mas se destroem
E destroem os outros
Pelo simples fato
De não saberem quem são.

(J.L.)


Vinte poemas de amor e uma canção desesperada


Posso escrever os versos mais tristes esta noite
Escrever por exemplo:
A noite está fria e tiritam, azuis, os astros à distância
Gira o vento da noite pelo céu e canta
Posso escrever os versos mais tristes esta noite
Eu a quis e por vezes ela também me quiz
Em noites como esta, apertei-a em meus braços
Beijei-a tantas vezes sob o céu infinito
Ela me quis e as vezes eu também a queria
Como não ter amado seus grandes olhos fixos ?
Posso escrever os versos mais lindos esta noite
Pensar que não a tenho
Sentir que já a perdi
Ouvir a noite imensa mais profunda sem ela
E cai o verso na alma como orvalho no trigo
Que importa se não pode o meu amor guardá-la ?
A noite está estrelada e ela não está comigo
Isso é tudo
A distância alguém canta. A distância
Minha alma se exaspera por havê-la perdido
Para tê-la mais perto meu olhar a procura
Meu coração procura-a, ela não está comigo
A mesma noite faz brancas as mesmas árvores
Já não somos os mesmos que antes havíamos sido
Já não a quero, é certo
Porém quanto a queria !
A minha voz no vento ia tocar-lhe o ouvido
De outro. será de outro
Como antes de meus beijos
Sua voz, seu corpo claro, seus olhos infinitos
Já não a quero, é certo,
Porém talvez a queira
Ah ! é tão curto o amor, tão demorado o olvido
Porque em noites como esta
Eu a apertei em meus braços,
Minha alma se exaspera por havê-la perdido
Mesmo que seja a última esta dor que me causa
E estes versos os últimos que eu lhe tenha escrito. 

(Pablo Neruda)




Eram nossos olhos
Nossos risos bobos
As conversar à toa

Eram os acasos ou não
As intensões ou não
O querer que tínhamos

Eram os desejos
A vontade
O toque das mãos

Era o que não definimos
Só o que sentimos
Quando os lábios se encontravam.

(J.L.)


Pensei que não havia mais saudade
Ou ao menos que já tivesse vencido a tal da nostalgia
E de repente, me pego traindo a mim mesma
Nas coisas que não queria sentir
Nas lembranças que não queria lembrar
Será isso mesmo uma saudade?!
Pergunto-me entre lágrimas
E ao mesmo tempo num riso bobo
Lembrando de momentos tão bons
Misturado com ruins
Que coisa estranha!
E me senti levada de mim em pensamentos
Soltos, diversos, intensos
Se estava no controle hoje saiu correndo
E simplesmente me deixou tão quieta
Com um vazio de quem sabe
Que nada pode fazer voltar.


(J.L.)


As muitas lutas travadas ainda que não vencidas fazem-me mais experiente, trazendo tantas lições, algumas boas, outras ruins de aprender, porém necessárias. Ao longo da vida, tantos altos e baixos, superações, decisões e discernimentos, erros e acertos, fizeram-me mais firme.

A vida pode parecer ter sido fácil quando se olha meus risos, mas até isso tive que aprender, o que trazemos intimamente poucas pessoas conseguem ver.Quando às vezes se perde as esperanças, quando se perde a confiança, quando definha sentimentos bons, quando você se encontra só, quando não há com quem contar, desabafar... Quando ninguém pode ver tuas lágrimas, quando necessita de compreensão, um abraço amigo, algum afeto recluso e impedido...

As pessoas teorizam tantas coisas a respeito das outras mas nem sempre querem saber como realmente estão. Eu aprendi tanto comigo mesma, questionando minhas atitudes, interrogando meus jeitos e trejeitos como aprendi olhando para outros e tentando entender porque agem como agem e são como são e sempre acreditei que podemos mudar e nos aprimorarmos como seres “humanos”. Humanos de verdade. Eu mesma mudei tantas vezes e certamente eu podia ser alguém muito pior.


Sei que não sou a melhor pessoa, sei que sobrevivi a tantas tormentas e continuo navegando nesse mar da vida, fácil não é, mas aprendi que podemos ser mais leves e nada melhor do que contribuirmos conosco mesmo e com os outros facilitando as coisas. Não precisamos complicar tanto, que a dor e a alegria sejam sentidas no seu devido tempo, que os sonhos e projetos sejam perseguidos e incentivados, que a nossa mão esteja sempre estendida para ajudar ou receber ajuda.

 Das tantas vezes que caí encontrei uma estendida e não hesitei em segurá-la e nem sempre é o seu melhor amigo não, às vezes é até um desconhecido, uma pessoa que considerávamos “chata” ou sem afinidade alguma, uma pessoa cheia de problemas também, alguém que a vida deseja que percebamos e descubramos que não há perfeição e todos vivem numa batalha ferrenha que nem a gente, alguém que nos trouxe a palavra certa, a conversa necessária, o ânimo preciso para entendermos o momento que passamos.


Do que precisamos? De olhos atentos porque a vida tá sempre ensinando, tudo pode acontecer de bom ou de ruim porque o único script que ela tem é nascer e morrer e o intervalo entre esses é a nossa batalha, é a misteriosa luta  que travamos, a de aprender a viver, cair, superar e continuar aprendendo... é a nossa história. 
E lembre-se, um guerreiro luta até o fim e faz história!


(J.L.)