Sim, um dia já me decepcionei com a amizade, cheguei a tantos
questionamentos, tantos porquês, tantas dúvidas... Fui infeliz, fui
imatura, chorei por sentimentos feridos e lamentei tê-los.
É tão
difícil aceitar que muitas vezes as pessoas que você mais considera
pode te ferir. E isso me levou a profundas reflexões. Sei que tudo chega
no momento oportuno e que precisamos aprender a tirar a melhor lição,
foi justamente aí que aprendi a grande questão de que não é importante
ter um amigo, mas o que importa é ser um amigo. Compreender que o outro
também é limitado como você, que pode errar, falhar, cair, caluniar...
Que pode chegar um dia que o amigo não tá nem ai pra ti, porque
encontrou outros amigos e a gente precisa ter a maturidade de poder
aceitar que as pessoas não são nossas, não temos direitos de posse sobre
ninguém. Esse foi meu melhor aprendizado. Confesso que a partir daí
minha visão mudou muito e me permitiu ser mais livre com meus
sentimentos.
Saber que considero alguém muito a ponto de chamá-lo
de amigo, não quer dizer que seja preciso ser tão reciproco, mas ainda
assim, meu gostar não muda, o sentimento é meu e eu preciso saber o que
sinto na minha dimensão e que nunca se igualará à dimensão do outro, não
existe amizade, nem amor trocado na mesma moeda, há sempre alguém que
se dedica mais e esse dedicar não quer dizer que seja maior ou menor que
o do outro, tem gente que pouco fala, mas muito faz e vice-versa.
É preciso mesmo deixar livre, deixar solto, deixar que as raízes
procurem o solo que quiser e finquem por querer e deixar que se
fortaleçam e que tudo começa em nós mesmo, exigir do outro todas as
atenções que achamos que merecemos nunca é o caminho. Se existe uma
direção, hoje eu acredito que é começando sempre em mim, isso é o que
vai me permitir perdoar o outro quando ele errar. Quando nos achamos
merecedores demais geralmente nada nos bastará, sempre fica faltando um
jeito, um trejeito, sempre vai faltar algo porque o ego precisa de
atenções. E acredite em mim, os bons e melhores sentimentos podem se
sufocar com as cobranças.
Hoje, sem dúvida, em vez de dizer que
tenho amigos eu procuro ser amigo, sempre me disponho a ouvir, a estar
perto e também a estar longe, às vezes é melhor está longe e apenas
rezar, interceder, mesmo que o outro nem saiba. Amizade não sobrevive de
grandes feitos, mas das pequenas coisas, pequenos gestos que crescem e
fortalecem o respeito mútuo.
(J.L.)